terça-feira, 28 de setembro de 2010

“— Paisagem vil. — sussurrei imediatamente antes de pular.



Os exatos oito segundos de queda (preocupei-me antecipadamente em calcular) duraram oito estonteantes décimos de segundos em minha cabeça. Eu pulara de verdade, não apenas me inclinando para a borda até que o corpo se deixasse cair pelo espaço sem fim; pulara como uma criança pula em uma piscina, alegre, ingênua, no auge do contentamento. Talvez tenha sido o espaço de tempo mais eufórico de minha vida. E libertador, certamente: Nada liberta mais o ser humano que a ilusão de voar.


A tal paisagem à qual me referi não me era vil à toa, a cidade que se estendia na imensidão era cinzenta por entre a tênue fumaça que a cobria, os prédios, cujos cumes agudos ansiavam perfurar o céu, eram uma bruta ameaça, de majestosos e medonhos. Eu sentia que estava prestes a deixar tudo aquilo para trás, todas as chateações, a modorrenta e burocrática hipocrisia deste colosso que chamam de mundo contemporâneo.


Tomo a liberdade de proferir que é a mais pura mentira o reles mito de ver a retrospectiva de sua vida quando se está na iminência de perdê-la. Quem se atira de um edifício de 40 andares tem um vasto panorama em queda vertical a contemplar e uma inebriante sensação à qual se entregar. Não há tempo de reviver repetitivos e fúteis detalhes de uma vida da qual se desistiu.


O fato é que abri ainda os olhos algum tempo depois (Quanto? Algumas horas? Dias? Meses?) no que entendi se tratar de um quarto de hospital e aqui estou, com um bloco de notas e uma caneta que alguém, esquecera na mesinha próxima à cama. Já ouvi que mais vergonhoso que tirar a própria vida é tentar fazê-lo sem que obtenha êxito. Entretanto tudo o que sinto agora é o mais concreto interesse pelo acontecido, interesse em desmascarar a peça que a vida me pregou.


No final, não sei se terei novamente a ousadia de fazer o que fiz, mas penso que, por hora, não há necessidade de refletir sobre o assunto. O mais intrigante, acho, é que pareço encarar tudo como mera brincadeira, simplório jogo com o destino. Quando a vida me passara a valer tão pouco?


Tento mover os pés, não consigo. Estaria eu predestinado a morrer, não pulando de um prédio, tarefa inexplicavelmente falha, mas sim apodrecendo vegetativamente, como um verme em decomposição, em um hospital?"


O doutor lê as últimas palavras escritas no bloco de notas, no rosto uma ruga de incredulidade. No quarto, uma cama vazia e uma janela aberta, violada de algum modo sobrenatural por um paciente paralítico, recém chegado do pronto socorro. No meio da rua, abaixo da janela, um corpo ensanguentado.


Boom gente ashei esse texto em um blog de um amigo meu, Autor desconheçido'______ posteii ele aqii
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